18 outubro 2006

Só medir o PIB não basta, dizem economistas.

Só medir o PIB não basta, dizem economistas.
Samantha Maia18/10/2006
O trabalho da Pastoral da Criança de reduzir a mortalidade infantilEm bolsões de pobreza, com vigilância nutricional e prevenção de doenças, não contribui para o crescimento do Produto Interno Bruto(PIB), pois é trabalho voluntário. No entanto, o trágico acidente aéreo ocorrido com o Boeing da Gol, em Mato Grosso, tem potencial para ajudar a elevação do PIB, na medida em que gera gastos para reparação de danos e pagamento de seguros. Dessa forma, valorizar o crescimento do país tendo o PIB como parâmetro, seria, em determinados casos, desconsiderar a melhoria de vida da população.
Essa contradição foi levantada ontem no 2º Seminário "Novos Indicadores de Riqueza", organizado pela Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, em São Paulo. O primeiro foi realizado em Brasília,há dois meses, com a presença do ministro de Relações Institucionais,Tarso Genro. Em videoconferência, os estudiosos franceses PatrickViveret - autor de "Reconsiderar a Riqueza" - e Jean Gadrey - autor de "Os Novos Indicadores de Riqueza" - sugeriram a adoção de um novo modelo para medir o crescimento dos países.
"O PIB nada diz sobre qualidade de vida, devemos usá-lo, mas colocá-lo m seu devido lugar", disse Gadrey. Para Viveret, a utilização de novos indicadores, que levem em consideração a redução de pobreza e conservação do meio ambiente, por exemplo, seria importante para nortear as decisões políticas, hoje reféns da exigência de aumento do PIB.
No debate eleitoral, a dificuldade de questionar a importância do crescimento econômico é evidente. Segundo José Eli da Veiga, professor de economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP), que compôs a mesa em São Paulo, contestar o PIB pode ser considerado um movimento subversivo, mesmo sendo claro que ele não é sinônimo de desenvolvimento humano. "Os dois candidatos à Presidência sentem-se na obrigação de mostrar quem vai fazer o Brasil crescer mais. Quando Lula relativizou isso em entrevista à 'The Economist', todo mundo criticou", disse. Em março deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse à revista inglesa que não queria crescer "10% ou 15% ao ano", pois preferia "um ciclo de crescimento duradouro de 4% ou 5% em média". Ladislau Dowbor, professor de administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), foi quem deu o exemplo da Pastoral daCriança durante sua apresentação. Segundo ele, além de pensar em novos indicadores de riqueza, é preciso disponibilizar as informações coletadas à população, para que todos possam identificar as necessidades locais e exigir providências dos políticos. "Isso acabaria com a conclusão absurda de que produzir mais é o mais importante. Precisamos saber para onde vamos. Crescer por crescer é a filosofia da célula cancerosa", disse. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), utilizado pela ONU, foi lembrado pelos palestrantes, mas Gadrey e Viveret acreditam que índices específicos são mais eficientes. Para eles, juntar vários aspectos - o caso do IDH, renda per capita, acesso e nível de educação da população e expectativa de vida ao nascer - num mesmo índice dificulta sua compreensão.